Imagine uma ilha tropical no Oceano Pacífico, cercada por um enorme recife de corais e uma grande biodiversidade. Após a descoberta de riquezas na região, Nauru se tornou o segundo país com a maior renda per capita do planeta, ficando na frente de qualquer território europeu. Entretanto, após anos de exploração, a menor república do planeta se tornou um local pobre e completamente devastado pela ganância humana. Conheça a história do país destruído por um ecocídio.
Introdução – A História de Nauru
A República de Nauru é uma pequena ilha isolada, situada na Oceania, a cerca de 4.800 km da Austrália. A nível de comparação, a menor cidade brasileira por área, Santa Cruz de Minas, possui aproximadamente 3,565 km². Nauru, por outro lado, possui apenas 21 km², sendo o terceiro menor país do mundo. Para se ter ideia do tamanho do local, o Aeroporto de Hartsfield-Jackson, em Atlanta, possui 19 km². Colonizada por micronésios e polinésios há cerca de 3 mil anos, foi um dos últimos lugares com uma grande população isolada em nosso planeta.
Entretanto, a história da importância econômica da ilha para os seres humanos começou há alguns milhões de anos. Por estar localizada longe de grandes massas continentais, o lugar se tornou um paraíso para as aves marinhas, que não possuíam nenhum predador nativo. Ao nidificarem na região por milhões de anos, depositaram toneladas de excremento (chamado guano) no solo da região. Após a sedimentação desse material, rochas ricas em fósforo se tornaram o principal afloramento no local, sendo o ponto chave da história futura do país.
Em 1798, o primeiro europeu encontrou a ilha. Rapidamente, as notícias de um lugar fértil e de boa localização, perto de importantes rotas do Pacífico, atraiu a atenção de diversos países da Europa, que criaram pequenos assentamentos na região com o apoio do povo nativo, em troca de armas de fogo e de bebidas alcoólicas. A partir de 1826, o alcoolismo se tornou um problema no local e, com quase toda a população possuindo armas, brigas pelo poder se instauraram na outrora comunidade pacífica, culminando em uma guerra civil em 1878, que matou mais de 35% da população.
Em 1888, a Alemanha passou a comandar Nauru e restabeleceu a monarquia na ilha. Devastada pela guerra, a economia local lutava para sobreviver, até a descoberta de grandes depósitos de fosfato em 1907. Amplamente utilizado na agricultura e na produção de explosivos, o fosfato pode ser um produto extremamente caro, com uma demanda mundial. Para os moradores nativos, o fosfato foi melhor que ouro. Mesmo com anos de exploração colonial e com seu território invadido pela Austrália durante a Primeira Guerra, a população local começou a enriquecer gradativamente. Durante a Segunda Guerra, nauruanos foram escravizados pelo Japão, mas foram libertados em 1945. Em 1968, finalmente o país conquistou sua independência após ter sido regido por dezenas de Estados.
Liberdade e crescimento econômico de Nauru
A partir desse momento, Nauru se tornou um dos países mais importantes no comércio mundial. Embora não competisse com os maiores países em renda total, todo o planeta dependia de Nauru e dos outros poucos grandes exportadores de fosfato. As antigas indústrias europeias foram compradas pelos nauruanos que, ao empregar milhares de pessoas, permitiram o crescimento econômico de toda a nação. Além de ser um paraíso tropical, Nauru passou a ser um paraíso econômico pra quem vivia ali, zerando as taxas de desemprego e permitindo a completa erradicação da fome de sua população que, embora pequena, ainda se recuperava de guerras e do trabalho escravo.
As densas florestas tropicais no interior da ilha foram derrubadas pela mineração, assim como os grandes paredões rochosos que serviam de lar para milhares de aves marinhas. Em 1970, Nauru arrecadava 100 milhões de dólares por ano com a exportação de fosfato que, com sua pequena população, se tornou o segundo país com a maior renda per capita do planeta, atrás apenas dos Emirados Árabes Unidos.
Tanto sucesso econômico fez com que essa pequena nação criasse muitos investimentos internos para obter total independência econômica de outros países. O país criou sua própria companhia aérea, que operava com os aviões mais vazios do mundo, uma vez que a frota de aviões poderia carregar 10% da população de Nauru de uma só vez. No entanto, após perder sua permissão de realizar voos comerciais, a companhia começou a operar gratuitamente para os nauruanos durante 6 meses.
Ascenção e queda de Nauru
Com a crescente verba adquirida por meio da mineração de fosfato, o país passou a investir em hotéis, na compra de terrenos e na construção de edifícios ao redor do mundo, com um valor estimado de mais de um bilhão de dólares. Infelizmente, praticamente todos os seus investimentos externos deram errado e, em 1990, todo o fosfato do país se esgotou. Com uma economia forte e com uma indústria crescente, o país destruiu completamente seu ecossistema em 83 anos, impedindo que o turismo fosse uma alternativa. Atualmente, Nauru recebe menos de 200 visitantes por ano.
Nos anos seguintes, a rica população do país foi perdendo o seu dinheiro, o que gerou o fechamento de comércios e uma alta no desemprego. A insegurança alimentar tornou-se uma realidade tão grande que o sobrepeso passou a ser um sinônimo de status social, o que levou a uma alimentação cada vez menos equilibrada. Atualmente, mais de 94% da população de Nauru possui sobrepeso, 71% é obesa e a diabetes atinge mais de 30% dos nauruanos.
Nauru hoje é um país com o segundo menor PIB do mundo (ficando atrás apenas de Tuvalu). Seu PIB per capita, antes o segundo maior do planeta, hoje se encontra na 76ª posição. De todos os países, Nauru é o melhor exemplo de como o uso desenfreado de recursos naturais não renováveis, assim como a destruição ambiental extensiva, podem rapidamente arruinar um Estado.
Enquanto países do Oriente Médio lucram exponencialmente com o petróleo, um recurso finito, países como o Brasil e a Indonésia destroem seus ecossistemas inescrupulosamente em troca de lucro e de crescimento econômico. Nauru nos ensina que a ganância e o ecocídio podem, em muito pouco tempo, acabar com qualquer riqueza. Resta torcer para que aprendamos antes que seja tarde demais.
Referências
Sites
11 amazing facts about Nauru, the least visited, most obese nation on Earth
Nauru: From Rags to Riches to the Brink of Extinction
Corruption, incompetence and a musical: Nauru’s cursed history
The new rise of Nauru: can the island bounce back from its mining boom and bust?
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