Recifes de corais são estruturas biológicas, formadas por colônias compostas por milhares de pequenos organismos, que possuem um exoesqueleto de carbonato de cálcio e que, ao longo de centenas ou milhares de anos, criam gigantescas estruturas que se tornam o lar para uma infinidade de espécies marinhas. Os corais formam os habitats mais densamente diversos dos oceanos, capazes de abrigar cerca de 25% de toda sua vida e, nos últimos anos, algumas áreas perderam mais de 90% de seus recifes. Estima-se que todos os corais poderão praticamente desaparecer até 2050, em um cenário cada dia mais preocupante.
Recifes são ambientes megadiversos, que abrigam uma infinidade de organismos em regiões costeiras das regiões tropicais e semi-tropicais de todo o planeta. Mais de mil espécies de corais são capazes de formar recifes e, embora eles ocupem apenas 0,1% da área oceânica, abrigam entre 35.000 e 60.000 espécies de esponjas, polvos, anelídeos, anêmonas, peixes, répteis, mamíferos marinhos e centenas de outros grupos de seres vivos (embora algumas estimativas apontem que recifes possam abrigar mais de 9 milhões de espécies, a maioria ainda não descrita pela ciência). Por serem estruturas rígidas e resistentes, também funcionam como abrigos e berçários para espécies que vivem em regiões de mar aberto.
Mais de 500 milhões de pessoas necessitam diretamente de recifes para sobreviver, uma vez que utilizam seus recursos para subsistência ou trabalham com pesca e/ou turismo, o que movimenta 30 bilhões de dólares anualmente. Mesmo assim, o branqueamento dos recifes ainda é pouco discutido pela mídia, uma vez que ainda não gera um grande impacto econômico nos grandes países. Entretanto, diversas ilhas vêm sofrendo impactos devastadores ao perceberem que sua economia vem morrendo junto com os corais de que dependem.
Um recife é uma colônia de milhares de pequenos indivíduos, denominados pólipos, que vivem em simbiose com micro-organismos coloridos, denominados de zooxantelas. Esses protistas fotossintetizantes vivem dentro dos corais para sua proteção e, em troca, fornecem alimento para os mesmos, que vivem em águas pobres em nutrientes, além de serem responsáveis pelas suas cores vivas. Entretanto, se a água se torna muito quente, o coral expulsa a zooxantela, perdendo sua cor e sua principal fonte de alimento, o que pode levá-lo à morte caso a temperatura não volte ao normal nos próximos dias. Grandes tempestades e anomalias em temperaturas oceânicas sempre causaram branqueamentos em algumas áreas de recifes mas, à medida que o planeta esquenta, mais e mais corais são condenados à morte. Além disso, o aumento da quantidade de gás carbônico na atmosfera amplia também a quantidade desse gás dissolvido na água, o que acidifica os oceanos , fragilizando e dissolvendo o exoesqueleto de carbonato de cálcio desses animais.
A situação no Oceano Pacífico é a mais bem estudada e, portanto, a mais assustadora. A Grande Barreira de Corais, na Austrália, consiste em um complexo formado por mais de 2 mil recifes e se estende por uma área de 344.400 quilômetros quarados. Ela sofreu eventos de branqueamento em 1980, 1982, 1992, 1994, 1998, 2002, 2006, 2016 e 2017, alguns com 90% de mortalidade nas áreas afetadas. Desde que a área começou a ser monitorada, a barreira perdeu cerca de 60% de seus corais, tornando-se um deserto sem vida em algumas regiões e deixando de ser o maior complexo de recifes do planta. O Havaí já perdeu 56% dos corais próximos de sua principal ilha, enquanto o Japão perdeu 75% de seu maior recife, apenas no ano de 2017.
Entretanto, é para o Oceano Atlântico que devemos voltar a nossa atenção. Por banhar o Brasil, ele é o oceano mais conhecido pelos leitores desse texto e tivemos a oportunidade de presenciar em primeira mão os impactos desse evento. Uma pesquisa realizada na Flórida, em 2016, apontou que 66% dos recifes do estado estão parcialmente ou totalmente danificados pelo aumento das temperaturas oceânicas na região. Belize possui o maior recife do mundo e possui também um dos mares mais quentes do planeta. Em 1998, a temperatura da água no país ultrapassou 31 graus, o que matou todos os corais da espécie Agaricia tenuifolia da região.
Recentemente, um grande recife de corais foi descoberto na foz do Amazonas. Embora ainda pouco estudado, ele já apresenta sinais de estar sofrendo com impactos de atividades humanas e, cada dia mais, empresas petrolíferas têm ameaçado a sua existência. Descoberto em 2016, possui condições únicas, diferentes de todos os outros recifes conhecidos no planeta devido à sua proximidade com o Rio Amazonas, com uma baixa luminosidade e oxigenação. Com uma área inicial estimada em 9.300 km² e expandida posteriormente para 56.000 km², esse recife pode desaparecer antes mesmo de ser profundamente conhecido.
Em julho de 2019, a equipe do Tunes Ambiental teve a oportunidade de visitar Curaçao, um pequeno país insular do Caribe, repleto de belezas naturais. Avistamos a belíssima diversidade de recifes caribenhos e, infelizmente, também nos deparamos com centenas de recifes completamente mortos. A ilha perdeu entre 42 (Sustainable FisheriesGroup, 2015) e 50% (WAITT Institute, 2016) de sua cobertura de corais, além de possuir uma baixa biomassa de peixes em comparação com um recife saudável. Mesmo com esses dados assustadores, a região é uma das mais diversas do caribe, o que mostra um declínio assustador para toda a região. Os recifes garantem cerca de 442 milhões de dólares para a ilha anualmente, rendimento que, em breve, poderá acabar.
Entretanto, nem tudo está perdido. Nos últimos anos, por todo o planeta, milhares de pessoas vêm se dedicando à proteção desses ecossistemas. No fim de 2016, o projeto BioRock foi iniciado em Curaçao, com o objetivo de devolver vida a diversas regiões do país, por meio da construção de estruturas artificiais que permitam a reprodução de corais com facilidade. Esses recifes artificiais não só funcionam como uma fazenda de corais, como também oferecem abrigo e alimento para diversas espécies de animais. Em várias regiões do mundo, cascos de navios, barcos e até aviões vêm sendo deliberadamente naufragados, com o intuito de servir para o mesmo fim. Embora o aquecimento global e a poluição estejam destruindo ecossistemas megadiversos e seu futuro seja cada vez mais incerto e preocupante, essas iniciativas nos permitem sonhar com um mundo novamente repleto de corais e, consequentemente, de vida. Os corais estão na Terra há milhões de anos e estão sumindo por nossa causa. Portanto, é nosso dever protegê-los e, assim, garantir a saúde de nossos mares.
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Referências
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2018/04/23/interna_ciencia_saude,675562/recifes-de-corais-da-amazonia-sao-seis-vezes-maiores-do-que-estimado.shtml
http://www.researchstationcarmabi.org/wp-content/uploads/2017/08/Waitt-2017-Status-of-Curacaoan-reefs_Low-Res-1.pdf
https://www.dcbd.nl/sites/www.dcbd.nl/files/documents/BioNews-2017-4-Status%20Curacao%20Reef.pdf
https://www.abc.net.au/news/science/2019-05-21/coral-bleaching-french-polynesia/11129634
https://www.nbcnewyork.com/news/national-international/Science-Wipeout-Coral-Reefs-Global-Warming-416009263.html
https://www.vox.com/2016/3/30/11332636/great-barrier-reef-coral-bleaching
https://www.theguardian.com/world/2017/jan/12/almost-75-of-japans-biggest-coral-reef-has-died-from-bleaching-says-report?CMP=share_btn_link
https://www.cbsnews.com/news/great-barrier-reef-coral-bleaching-again/