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Austrália em Chamas – Parte 2 : Enchentes na África e sua relação

Esse artigo é continuação do Artigo “Austrália em Chamas – Parte 1: Uma ilha moldada pelo fogo.”. Caso você não tenha lido ainda, clique aqui. Bem, sabemos bastante sobre os incêndios da Austrália e como as queimadas do passado moldaram a fauna e flora existentes hoje no continente. Mas como o fogo na Austrália se…

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Esse artigo é continuação do Artigo “Austrália em Chamas – Parte 1: Uma ilha moldada pelo fogo.”. Caso você não tenha lido ainda, clique aqui.

Bem, sabemos bastante sobre os incêndios da Austrália e como as queimadas do passado moldaram a fauna e flora existentes hoje no continente. Mas como o fogo na Austrália se relaciona com alagamentos que têm ocorrido em outras partes do mundo?

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As queimadas recordes na Austrália foram incentivadas por fatores como relâmpagos, alguns casos de incêndio culposo e pelos ventos. Mas uma das principais razões pela situação ter se tornado tão extrema é a mesma razão pela qual houve o aumento de alagamentos no Leste Africano.

As queimadas na Austrália são uma parte natural do ecossistema do país. Há várias temporadas de queimadas em diversas regiões. Em 1974, os incêndios queimaram 3.5 milhões de hectares e, em 2003, outros 2 milhões de hectares. Mas a queimada que se iniciou em 2019 é ainda pior: 4.9 milhões de hectares, podendo piorar. O mundo todo está vivendo as consequências das mudanças climáticas, mas a Austrália tem sofrido ainda mais. O ano de 2019 foi o mais quente já registrado no país com regiões atingindo 45 graus Celsius em dezembro. Esse mesmo ano foi também o mais seco, o que produz a condição ideal para alastrar o fogo.

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Séries temporais de anomalias na temperatura da superfície do mar e temperatura sobre o solo na região australiana. Anomalias são as partidas do período climatológico médio de 1961 a 1990. FONTE: State of the Climate, 2016. Bureau of Meteorology e CSIRO

Mas como o aquecimento da superfície oceânica influencia nesses fatores? O aquecimento global está “sobrecarregando” um mecanismo climático cada vez mais perigoso no Oceano Índico, que teve um papel importante em desastres este ano, incluindo incêndios na Austrália e inundações na África. Cientistas e autoridades humanitárias dizem que o recorde do Dipolo no Oceano Índico (DOI) nesse ano, como é conhecido o fenômeno, ameaça reaparecer com mais regularidade e de forma mais extrema à medida que a temperatura da superfície do mar aumenta.

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DOI positivo Fonte: BBC

As temperaturas na parte oriental do oceano oscilam entre quente e frio em comparação com a parte ocidental, passando por fases denominadas “positiva”, “neutra” e “negativa”. A fase positiva do dipolo neste ano – a mais forte em seis décadas – é gerada por temperaturas mais quentes do mar na região oeste do Oceano Índico, e o oposto no leste. O resultado desse dipolo positivo incomumente forte este ano (+2,06 ° C) foram chuvas e inundações acima da média na África oriental e secas no sudeste da Ásia e na Austrália.

Na Somália, no final de 2019, rios que transbordam inundaram comunidades, deslocando 370.000 pessoas e destruindo fazendas. As inundações mataram pelo menos 17 pessoas por lá, segundo informações das Nações Unidas. A vizinha Etiópia teve mais de 200.000 pessoas deslocadas. No Quênia, pelo menos 17.000 foram expulsas de suas casas e 48 pessoas morreram. No momento, o oeste do Oceano Índico está mais quente que o normal. Os pesquisadores dizem que o aumento da evaporação do oceano sopra sobre o Chifre da África e cai como chuva. [Chifre da África, também conhecido como Sudeste Africano e algumas vezes como Península Somali.]

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Passageiros de veículos retidos ficam ao lado dos destroços das águas da enchente, na estrada de Kapenguria, no condado de West Pokot, no oeste do Quênia.

A temperatura média global da superfície do mar aumentou aproximadamente 0,13 graus Celsius por década nos últimos 100 anos, diz a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA. O oceano absorveu mais de 93% do excesso de calor proveniente das emissões de gases de efeito estufa desde a década de 1970, segundo um relatório de 2013 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. O Quênia está passando por uma estação chuvosa acima do normal, disse à Agência de Notícias Reuters o vice-diretor do Departamento de Meteorologia do Quênia, Bernard Chanzu: “Os extremos estão se tornando mais pronunciados do que antes”. “Podemos atribuir isso à mudança da atmosfera global, como o aquecimento global“, completou ele.

Caroline Ummenhofer, cientista da Woods Hole Oceanographic Institution, em Massachusetts, que tem sido uma figura-chave nos esforços para entender a importância do dipolo, disse que fatores únicos estão em jogo no Oceano Índico em comparação com outras regiões tropicais. Embora as correntes oceânicas e os ventos no Atlântico e no Pacífico possam dispersar a água do aquecimento, a grande massa de terra asiática ao norte do Oceano Índico o torna particularmente suscetível à retenção de calor. “É bem diferente dos eventos tropicais do Atlântico e do Pacífico tropical.”

Pesquisas recentes sugerem que o calor do oceano aumentou dramaticamente na última década, levando ao potencial do aquecimento da água no Oceano Índico para afetar as monções indianas, um dos padrões climáticos mais importantes do mundo. “Houve pesquisas sugerindo que os eventos de dipolo no Oceano Índico se tornaram mais comuns com o aquecimento nos últimos 50 anos, com modelos climáticos sugerindo uma tendência para que esses eventos se tornem mais frequentes e mais fortes”, disse Ummenhofer.

Em sua entrevista ao jornal The Guardian, a cientista disse que o aquecimento parece ser um mecanismo de “sobrecarga” já existente em segundo plano.

“O Oceano Índico é particularmente sensível a um mundo em aquecimento. É o canário na mina de carvão que vê grandes mudanças antes que cheguem a outras áreas do oceano tropical.”

[No século XIX, era comum entre trabalhadores das minas de carvão a prática de monitorar o nível de gases tóxicos usando canários. Os pobrezinhos eram os primeiros a morrer, sinalizando o momento em que os mineiros deveriam deixar a mina.]

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A natureza tem apresentado sinais cada vez mais fortes.  A forma que geramos energia e os nossos meios de produção precisam ser alterados. As mudanças desconhecem as barreiras governamentais. A migração de vítimas do aquecimento global já é uma realidade. A pergunta que fica é: quantos canários precisarão morrer para que o mundo enxergue o perigo iminente?

 

 

 

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Referências: 

Artigo “A dipole mode in the tropical Indian Ocean. Nature” – Saji, N., Goswami, B., Vinayachandran

“Indian Ocean Dipole Climate System” – Peter Beaumont e Graham Readfearn, em reportagem do The Guardian

Site Climate Change in Australia : https://www.climatechangeinaustralia.gov.au/en/

Bureau of Meteorology

Why Australia’s fires are linked to floods in Africa – Vox

 


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