Os melhores amigos do homem? – Como cães e gatos podem prejudicar nossos ecossistemas

dogs feral cats

Cães e gatos são, sem dúvida, os animais mais presentes em nosso dia-a-dia. Há pelo menos 14.000 anos e 9.000 anos, respectivamente, esses animais desempenham diversas funções em nossas vidas, como no auxílio para a caça, pastoreio, proteção, transporte, alimentação, controle de pragas e companhia, sendo também muito importantes para a cultura de diversos países. Entretanto, por mais que esses animais sejam de extrema importância para nós e que sejam amados pela maior parte da população, eles podem representar grandes riscos ao meio ambiente.

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Cães e gatos fazem parte de culturas por todo mundo, sendo incrivelmente importantes para a sociedade de muitos países

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Dentro das cidades, a presença de cães e gatos tende a diminuir a diversidade de pequenos animais, como aves e lagartos, em quintais e jardins do mundo todo, uma vez que esses pets espantam e caçam a fauna selvagem. Caso esse comportamento fosse mantido apenas dentro das zonas residenciais, o impacto já seria muito grande. Ainda assim, a maior parte dos gatos domésticos pode vagar livremente, saindo de sua casa quando tem vontade e, dos 900 milhões de cães vivos no mundo, apenas 83% ficam presos, a maioria vivendo soltos em cidades e em zonas rurais.

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Cães e gatos em zonas rurais frequentemente matam pequenos animais, o que pode impactar a fauna local

Para mensurar o impacto de gatos domésticos na vida selvagem, pesquisadores desenvolveram diversos projetos por todo o mundo, com resultados alarmantes. Estima-se que, somente na Inglaterra, gatos sejam responsáveis pela morte de mais de 70 milhões de animais todos os anos. Dados do Smithsonian Conservation Biology Institute apontam que, nos Estados Unidos, esses felinos matam entre 1.3 a 3.7 bilhões de aves e entre 6.3 a 22.3 bilhões de mamíferos. Em arquipélagos, as situações são ainda mais assustadoras, uma vez que o alto índice de endemismo faz com que muitas espécies estejam susceptíveis às extinções. Na Austrália, esses invasores já foram diretamente responsáveis pela extinção de 20 mamíferos nativos e por ameaçar ainda hoje mais 124.  Na Nova Zelândia, o governo propôs, inclusive, o extermínio desses animais, que foi realizado em pequenas ilhas do país.

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Gato feral na Austrália – Foto por Taavo Kuusiku

Programas de eliminação dessa espécie exótica, entretanto, nem sempre se mostram efetivos. Ao eliminar os gatos de algumas ilhas da Oceania, a população de ratos (também introduzido) aumentou drasticamente, ameaçando ainda mais a fauna local. Esse tipo de desequilíbrio mostrou-se problemático, uma vez que se observa a presença de ratos na maior parte das ilhas nas quais gatos foram também introduzidos, o que leva os pesquisadores a questionarem a eficiência dessas ações.

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Pragas de ratos são comuns por toda a Oceania em áreas com ausência de gatos

Os cães domésticos, por sua vez, possuem um impacto direto menos significativo. Entretanto, o abandono excessivo, somado à falta de barreiras físicas que impeçam a fuga de grande parte desses animais, contribuiu para o surgimento de grandes populações ferais, ou seja, quando um animal doméstico adquire características que permitem sua sobrevivência na natureza. Grandes matilhas de cães ferais vivem hoje na América do Sul, Europa e Ásia, onde caçam desenfreadamente grandes herbívoros e ameaçam mais de 200 espécies pelo mundo. Impactam, também, nas populações de grandes carnívoros, por transmitirem doenças e oferecerem intensa competição.

A free-ranging dog chases a blackbuck in Vetnoi of Indian state of Orissa

Cachorro feral caçando um antílope (acima) e um cervo (abaixo) , na Índia – PITAM CHATTOPADHYAY e VIKASPATIL

Dogs attack a spotted deer in Karnata state of south India

O extermínio de cachorros também é empregado, nos casos em que esses carnívoros ameacem diretamente a fauna afetada ou vidas humanas. Em Bucareste, na Romênia, a população de cães de rua com comportamentos ferais cresceu drasticamente nas últimas décadas. Somente em 2012, mais de 16.192 pessoas foram mordidas por cães na cidade e, em 2013, uma criança de quatro anos foi atacada e morta, o que gerou extremo descontentamento popular com esses animais. Desde então, mais de 25 mil desses canídeos foram mortos por agentes governamentais. No Chile, por sua vez, grandes matilhas passaram a viver nos arredores de Santiago, caçando e matando veados ameaçados locais, o que gerou a liberação da caça de cães.

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Bucareste possui uma das maiores populações de cães de rua do mundo, mesmo após o extermínio em massa desses animais

Então, o que devemos fazer? Primeiramente, vale ressaltar que a culpa por esses acontecimentos é exclusivamente nossa e que erros humanos não devem justificar o mau-trato a esses organismos. O abandono e o manejo incorreto desses animais fazem com que eles ofereçam riscos, não só para as pessoas, mas para todo o ecossistema, o que deve ser tratado de forma extremamente delicada. O governo neozelandês e ONGs locais vêm incentivado a população a castrar seus gatos e a não adquirir um novo após eles morrerem, o que poderia extinguir os gatos do país até 2050. Essa orientação vem sendo copiada por alguns países insulares. A Holanda, por sua vez, conseguiu acabar com todos os cães de rua do país, por meio de amplas campanhas de sensibilização da população, de feiras de adoção e da promoção da castração gratuita para animais domésticos. Já o Chile e a Nova Zelândia capturam cães e gatos ferais e os devolvem à natureza após a sua castração, o que evita o crescimento populacional.

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Após castrados, gatos da Nova Zelândia retornam à natureza, impossibilitando a geração de impactos nas gerações futuras.

Para oferecer segurança às pessoas e aos animais, devemos ter a consciência de que cães e gatos são organismos que, como qualquer outro, têm o poder de impactar em seu ambiente. Ao mantermos gatos e cães em casa, fora dos momentos de passeio, evitamos a morte desenfreada de inúmeras espécies nativas. Além disso, a castração é uma excelente opção para quem possui animais soltos, uma vez que impede a reprodução indesejada e, consequentemente, evita o abandono, reprimindo, também, o sofrimento animal. Devemos evitar ao máximo alimentar cachorros e gatos de rua em ambientes como parques, uma vez que estes lugares abrigam uma enorme variedade de vida selvagem, que pode correr riscos com a presença desses animais . Por fim, devemos lembrar que, além de nossos amigos, esses seres são nossa responsabilidade e que, cuidando bem do seu pet, você estará também zelando pelo nosso planeta.

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Atualmente, nenhum cão vive nas ruas da Holanda, que é considerado o lugar do mundo com o maior bem estar canino.

Referências

https://theconversation.com/the-bark-side-domestic-dogs-threaten-endangered-species-worldwide-76782

https://www.bbc.com/news/science-environment-47062959

https://cascadesraptorcenter.org/articles/the-effects-of-cats-on-wildlife

https://www.smithsonianmag.com/science-nature/moral-cost-of-cats-180960505/

https://www.protectnatureto.org/wp-content/uploads/2017/07/Impacts-of-dogs-on-wildlife-10-Aug-16.pdf

https://www.clintonherald.com/news/local_news/feral-cat-program-plans-forwarded/article_2dc67114-3caa-56fd-9747-5cc7713567ae.html

Artigo publicado na Nature “The impact of free-ranging domestic cats on wildlife of the United States” – https://www.nature.com/articles/ncomms2380

 

 

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