Como secar um mar – A triste história do Mar de Aral

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O Mar de Aral é um lago de água salgada, localizado na Ásia Central, entre o Cazaquistão e uma região autônoma do Uzbequistão denominada Caracalpaquistão, que surgiu há cerca de 9 mil anos, no período Holoceno. Durante muito tempo, ele foi o quarto maior mar do planeta, com uma área de aproximadamente 68.000 km² e um volume de 1.100 km³. Entretanto, desde 1960, esse mar vem encolhendo drasticamente, com apenas 10% de seu tamanho original. Em menos de 60 anos, conseguimos reduzir um mar a três pequenas lagoas, em um dos maiores desastres ambientais da história. Mas, afinal, como isso foi possível? E ainda, há esperança para o Mar de Aral?

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Esse grande corpo d’água era irrigado por dois grandes rios, denominados Amu Daria e Syr Darya. Após o fim da Primeira Guerra, esses dois rios passaram a ser parcialmente desviados para irrigar áreas agrícolas na União Soviética. Nas próximas duas décadas, os planos de irrigação aumentaram drasticamente, o que levou grande desenvolvimento para a região. O Mar de Aral tornou-se um intenso ponto de pesca e de desenvolvimento militar, com grandes navios espalhados por sua superfície. Embora o avanço humano tenha sido rápido, ele não afetou a biodiversidade local no primeiro momento, que era composta por inúmeras espécies de aves, insetos, grandes manadas de mamíferos e, sobretudo, peixes. Mais de 35.000 toneladas de peixes eram capturadas anualmente, o que correspondia a mais de 80% da economia local, enquanto mais de 100.000 pessoas viviam da agropecuária.

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Indústria de pesca no Mar de Aral durante a década de 1940

A partir de 1960, entretanto, a demanda por produtos de moda na URSS aumentou drasticamente, o que fez com que o governo desviasse ainda mais água dos rios Amu Daria e Syr Darya para irrigar as plantações de algodão. O influxo de água para o Mar de Aral diminuiu até 22% da quantidade original , o que fez com que a taxa de evaporação fosse maior que a taxa de reposição no local. Ao longo dos anos, o nível da água decaiu  24 metros e sua área foi reduzida a 10% da original, ocasionando um aumento significativo na salinidade do ambiente, o que, junto com o uso desenfreado de agrotóxicos, acabou com a indústria de pesca na região.

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Nível do Mar de Aral ao longo dos anos

Atualmente, essa região tornou-se um complexo de pequenos lagos cercados por um deserto, na qual 12 espécies de mamíferos, 6 de anes e 11 de plantas estão quase extintos localmente. Grandes navios são encontrados a centenas de metros de qualquer fonte d’água e camelos caminham por uma área que, poucos anos atrás, era um mar cheio de vida.

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Entretanto, nem tudo está perdido. Desde os anos 2000, esforços da Ucrânia e do Cazaquistão, juntamente com a ONU, vêm melhorando a qualidade de vida das populações locais e a saúde do lago como um todo. Mais de 1,2 bilhões de dólares foram investidos pela Ucrânia na manutenção do nível atual do mar, criando sistemas de reabastecimento e reduzindo a retirada de água de seus afluentes. Uma enorme reserva foi criada na região, na qual mais de 740.000 hectares de floresta foram plantadas, além de diversos investimentos na infraestrutura da população local. Desde 2016, a produção de peixes no local aumentou 6 vezes e o nível da porção norte do lago subiu 8 metros.

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Pescadores no Mar de Aral – Foto por Carolyn Drake

Estima-se que o estrago nunca será reparado mas, devido aos esforços de governos e à ajuda da população local, o maior desastre hídrico da história poderá ser amenizado. O Mar de Aral será, para sempre, um lembrete da capacidade de destruição e da ganância humana, assim como de sua capacidade de mudanças positivas no mundo.

Referências

https://www.aljazeera.com/programmes/earthrise/2012/07/201271912543306106.html

https://www.theguardian.com/sustainable-business/sustainable-fashion-blog/2014/oct/01/cotton-production-linked-to-images-of-the-dried-up-aral-sea-basin

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150226_mar_aral_gch_lab

http://www.earthtimes.org/conservation/international-cooperation-recovery-aral-disaster/2734/

http://www.aralconference.uz/en/about_aral/

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