As catástrofes naturais estão aumentando?

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Segundo o Centro de Pesquisas de Epidemiologia em Desastres (CRED), a quantidade de inundações e tempestades no mundo aumentou 7,4% ao ano nas últimas décadas. Considerando os constantes relatos de danos climáticos excessivos nas notícias veiculadas pela imprensa, é importante perguntar: os desastres naturais estão piorando?

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Tornado

 

Por definição, os desastres naturais são qualquer forma de eventos catastróficos induzidos pela natureza ou atividades naturais da Terra. Alguns exemplos incluem terremotos, inundações, furacões, secas, tsunamis e tornados. A gravidade de tais desastres é tipicamente medida pelo número de mortes, perda econômica e capacidade de reconstrução da nação. Muitos desastres naturais estão além do controle humano. O movimento constante das placas tectônicas da Terra é o grande causador dos terremotos e tsunamis. A flutuação na radiação solar que se infiltra na atmosfera e nos oceanos dá origem a tempestades no verão e nevascas no inverno. No entanto, às vezes, os desastres naturais não são tão naturais e são causados ​​pela interferência da humanidade no sistema da Terra. Por exemplo, à medida que aumenta a poluição ambiental, os seres humanos contribuem com mais energia para o sistema, o que reforça a probabilidade de riscos repetidos, como inundações repentinas, incêndios florestais, ondas de calor e ciclones tropicais.

Para ser registrado como um desastre natural no EM-DAT (The International Desastres Database) , um evento deve atender a, pelo menos, um dos seguintes critérios:

• Dez ou mais pessoas forem dadas como mortas;

• 100 ou mais pessoas reportarem que foram afetadas;

• Declaração de estado de emergência ou

• Solicitação de assistência internacional.

A proporção da população global afetada por desastres naturais diminuiu nas últimas duas décadas (Figura abaixo), passando de uma média de uma em cada 23 pessoas no planeta, no período de 1994 a 2003, para uma em cada 39 pessoas, no período de 2004 a 2013. O total afetado atingiu o pico em 2002, devido, principalmente, à seca na Índia, que atingiu 300 milhões de pessoas, e a uma tempestade de areia na China, que afetou 100 milhões de pessoas.

Embora esse declínio geral seja parcialmente explicado pelo aumento da população global, o número absoluto de pessoas afetadas por desastres naturais também caiu, de uma média anual de 260 milhões, entre 1994 e 2003, para 175 milhões por ano, no período de 2004 a 2013.  As taxas médias de mortalidade, por outro lado, aumentaram durante o mesmo período de 20 anos. Esse aumento se deveu, principalmente, ao grande número de vidas perdidas durante três mega desastres: o tsunami asiático de 2004, o ciclone Nargis em 2008 e o terremoto de 2010 no Haiti. Mas mesmo excluindo esses mega-desastres, as taxas de mortalidade ainda aumentaram nas últimas três décadas. 

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Número de desastres naturais no mundo e por continente – CRED

 

Apesar do que o CRED (Centro de Pesquisas de Epidemiologia em Desastres) mostra, o gráfico acima é focado em apenas 20 anos de registros e pode nos confundir ao apresentar evidências. Ao se buscar registros advindos da EM-DAT (The International Desastres Database), podemos observar com mais clareza a variação de desastres ao longo de 117 anos:

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O número de desastres naturais registrados em qualquer ano. Incluindo seca, alagamentos, epidemias, clima extremo, temperatura extrema, deslizamento de terra, movimentação de terra, impactos espaciais, queimadas, atividade vulcânica e terremoto.

 

Os desastres naturais são classificados da seguinte forma:

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Geofísico/ Hidrológico/ Meteorológico/ Climatológico/ Biológico/ Extra-terrestre

Portanto, o que podemos dizer com relação a estes eventos e à atividade humana?

Desastres como, por exemplo, o terremoto ocorrido na segunda-feira (2 de abril de 2018), na Bolívia, é classificado como desastre de causa geofísica. O fenômeno registrado foi considerado forte: chegou a 6.8 pontos na escala Richter, que mede a magnitude dos terremotos. “As ondas se propagaram desde o ponto onde aconteceu o terremoto  e em todas as direções“, afirma o professor Marcelo Bianchi, do Centro de Sismologia da USP. “Elas acabaram atingindo e chegando nas cidades brasileiras. Mas, do mesmo jeito que chegaram aqui, também chegaram no Japão e no mundo inteiro. Aqui, como a gente está mais próximo do tremor, as pessoas acabaram sentindo. Uma coisa que a gente observou na nossa plataforma onde as pessoas podem relatar o que sentiram foi que a maior parte de quem relatou estava em edifícios. Isso acontece porque esse prédios muito altos têm estrutura muito sólida, presa no chão“, explica Bianchi. “Toda a energia de vibração que está no chão acaba sendo transmitida para o edifício. O edifício funciona como se fosse um pêndulo invertido“.

Muitas pessoas acreditam que esses fenômenos estão aumentando, mas, no caso de atividades vulcânicas e abalos sísmicos, isso não passa de uma impressão. De acordo com o British Geological Survey, o centro britânico de geociências, todo ano ocorrem, em média, 15 terremotos com magnitude maior que 7, considerados de grande proporção. O fato das pessoas acreditarem que eles estão aumentando se dá pelo fato de  que terremotos têm um impacto muito maior hoje do que no passado. A prova disso é que o terremoto de 2010 no Haiti, de longe o mais mortal desastre natural na história do hemisfério ocidental, que matou mais de 200.000 pessoas, não aparece em algumas listas de grandes terremotos. Isso acontece porque a magnitude do terremoto, 7, não foi tão excepcional.

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Mapa mundial de terremotos, por magnitude desde 1898 -Blog UX

A questão toda é que a maior parte dos terremotos que acontecem hoje no mundo ocorrem em locais onde não há pessoas, portanto eles não são notados. Hoje possuímos melhor instrumentação e relatos mais precisos desses grandes terremotos devido à mídia e, em parte, isso é verdade. Em 1931, havia cerca de 350 estações sismológicas. Hoje, elas são mais de 4.000 e os sismógrafos que são utilizados para medir os terremotos são muito mais sensíveis. Graças à internet, atualmente é possível descobrir sobre terremotos em minutos, em vez de semanas. 

Não é completamente irracional que um terremoto que ocorre em um lado da Terra possa desencadear outro do outro lado do mundo. Quando um grande terremoto passa, a Terra literalmente vibra através de ondas sísmicas, às vezes por até um mês depois. Isso ocorre devido ao choque do grande terremoto que faz com que todas as outras falhas “escorreguem”. Então, talvez um terremoto no Chile possa realmente fazer com que uma falha no Japão também entre em atrito.

Abalos sísmicos, atividades vulcânicas e tsunamis têm relação direta. Clique aqui para saber mais da nossa postagem sobre Tsunamis

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E com relação aos desastres de cunho meteorológico? Eles estão aumentando?

A resposta é que no caso dos furacões, depende. A quantidade e intensidade das tempestades de grandes proporções registradas em 2017 estão acima da média anual. A principal causa para o aumento da força desses fenômenos é o aquecimento global, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

Shuai Wang, pesquisador da Faculdade de Ciências Naturais do Imperial College London, explica que a média anual de furacões no Atlântico é de 6,2, conforme a série histórica de 1968 a 2016 da Agência Norte-Americana de Administração Atmosférica e Oceânica. Em 2017, antes mesmo do término do período de tempestades tropicais, foram registrados sete furacões, quatro deles de grande proporções, classificados em categorias superiores a 3 na escala Saffir-Simpson, que mede os fenômenos pela intensidade dos ventos e o potencial de destruição. Em agosto de 2017, o furacão Harvey provocou estragos no Texas, Houston e Louisiana, matando, pelo menos, 47 pessoas. Pouco depois, entre os dias 6 e 7 de setembro, o furacão Irma arrasou várias cidades do Caribe e o sul da Flórida, provocando mais de 60 mortes.

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Imagem de satélite de um furação

Em julho de 2007, um levantamento de furacões no Atlântico Norte ocorridos no século passado observou um aumento no número de furacões observados e concluiu que o aumento no número de ciclones estava diretamente associado ao efeito estufa. No entanto, isso foi refutado por uma análise de sistemas de monitoramento, que afirmou: “o monitoramento aprimorado nos últimos anos é responsável pela maioria da tendência observada no aumento da frequência de ciclones tropicais” (Landsea 2007). Em outras palavras, a razão pela qual mais furacões estão sendo observados pode ser devido a uma melhor capacidade de observá-los, graças a aeronaves, radares e satélites.

Então nada mudou?
Mudou sim! O aquecimento global produzido pelo homem cria condições que aumentam as chances de condições climáticas extremas. Nesse caso, há a intensificação do poder destrutivo de cada furacão. 

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Intensidade e localização de furacões e tempestades tropicais, desde 1851 – Blog UX

Desastres climatológicos, como no caso de queimadas, possuem, em parte, causas naturais, porém grande parte vem de ações antropológicas. Devido às mudanças climáticas, em alguns locais do mundo o clima fica mais seco que o normal, além de que algumas infestações de insetos geram combustíveis para o começo de uma queimada. Outro fator que influencia, sem sombra de dúvidas, é o aumento de pessoas vivendo próximas às áreas de florestas, ficando mais expostas a esse problema. Assim como as queimadas, as mudanças antropológicas no clima afetam diretamente esse tipo de desastre.

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Sabe-se que fatores hidrológicos têm relação direta com a antropização, ou seja, com a ação do ser humano sobre o meio ambiente. Para saber mais leia nossa postagem sobre Enchentes

Além disso, os desastres de cunho biológico também são diretamente influenciados por esse fenômeno. Porém, esse é um assunto complexo, que será melhor explicado em um texto futuro.

Sendo assim, poderíamos então concluir que desastres naturais, como o próprio nome diz, ocorreriam muitas vezes, independente de ações humanas. Porém, nossa atuação no planeta impulsiona e gera energia, piorando esses eventos. É importante entender que sociedades mais pobres tendem a sofrer mais com essas catástrofes e que, durante um desastre, as informações sobre grupos vulneráveis ​​podem ajudar a aumentar a eficácia das medidas de resposta, por exemplo, se estabelecendo prioridades durante as evacuações. Ademais, uma compreensão profunda da vulnerabilidade de cada grupo social pode ser usada para apoiar os mais desfavorecidos durante o processo de recuperação. Juntas, essas medidas podem contribuir consideravelmente para reduzir o risco de desastres sob circunstâncias socioeconômicas muito diferentes. 

Muitos dizem que a natureza age em legítima defesa. Entretanto, cabe a nós, seres humanos, respeitarmos seu espaço e ao invés de amplificarmos sua força através de nossas ações, ajudarmos àqueles que mais sofrem com esses desastres naturais.

 

 

Fonte: 

Site “Our World in Data – Natural Catastrophes” 

EM-DAT (The International Desastres Database

Centro de Pesquisa de Epidemiologia em Desastres (CRED)

British Geological Survey

Faculdade de Ciências Naturais do Imperial College London

Livro “The Human Cost Of Natural Disasters”

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