Andando pelos parques urbanos dos Estados Unidos se nota facilmente algumas formas um tanto quanto peculiares nas calçadas e bocas-de-lobo. São placas de ferro, pinturas, desenhos, broches e grades dos mais variados tipos, com inscrições que revelam: “No dumping, drains to river!” (Não despeje, drena para o rio! – na tradução livre). A jogada apelativa ao visual é genial. As prefeituras, especialmente de pequenas cidades norte-americanas, se empenham fortemente em implantar uma política de educação ambiental, envolvendo voluntários das escolas locais, para pintar e sinalizar, próximos aos bueiros e sumidouros de água de chuva, as mensagem que conscientizam sobre a importância de não despejar ou jogar lixos nesses sistemas de microdrenagem, uma vez que os mesmos drenam para rios e ambientes aquáticos sensíveis.
Os esforços das comunidades e vizinhanças têm mostrado resultados significativos, até mesmo nas grandes cidades. A cidade da Filadélfia conta com programas de implantação de métodos para cuidar das bacias urbanas em várias escalas, indo desde o residencial até o comercial. O uso de “Best Management Practices for stormwater”, Técnicas compensatórias de águas de chuva, como conhecido na área acadêmica no Brasil, são largamente aplicadas em novos projetos urbanos e são capazes de reduzir, quando avaliadas em conjunto, a quantidade e a qualidade das águas que vão para os rios.
O uso destas técnicas, como por exemplo os jardins de chuva individuais, são capazes ainda de trazerem vantagens indiretas, como a melhoria visual do cenário urbano e uma ideia geral de limpeza e cuidado com os solos das cidades.
Ainda que pareça de fácil implantação e de simples operação, o Brasil engatinha na aplicação de tais vantajosas técnicas. A grande preocupação das municipalidades, em sua minoria, gira em torno da redução de vazão de água que chega aos rios e córregos. Temos cidades pioneiras no uso de bacias de amortecimento de vazão, como Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre, mas cabe salientar que países como Estados Unidos e Japão já usavam dessas bacias para reduzir os alagamentos nos centros urbanos desde a década de 70.
Mesmo dando este pequeno passo para os cuidados de nossos rios urbanos, o Brasil ainda está longe de melhorar outro aspecto importantíssimo dos escoamentos superficiais: a qualidade das águas escoadas. Acontece que as primeiras águas de chuva que escoam carregam uma carga significante de poluentes (o chamado first flush), levando diretamente para o sistema de drenagem sólidos finos e grosseiros, óleo lavado das ruas, metais depositados no solo por fontes diversas e tantos outros poluentes. Nossa estrutura urbana não está preparada para controlar esses poluentes “invisíveis” aos olhos dos municípios e nem sequer estão na lista de passíveis de um tipo de tratamento. Vale ressaltar que no Brasil funciona o sistema separador absoluto, no qual o sistema de coleta de esgotos domésticos e industriais é separado do sistema de coleta de águas de chuva; tratar o esgoto produzido na cidade não quer dizer tratar a água que escoa por nossas sarjetas.
A educação ambiental no Brasil se mostra tão pequena quando analisamos os diversos aspectos do nosso meio, que ainda necessita de uma atenção especial. Alguns vão dizer que é de nossa cultura; que a boca-de-lobo entupida por lixo perto da esquina de nossa casa sempre vai ficar assim e que não adianta pedir porque ninguém vai ligar. Proponho, portanto, uma mensagem a ser passada no horário nobre da televisão brasileira, em letras capitais e brilhantes: NO DUMPING, DRAINS TO RIVER!
Referências
- http://www.columbian.com
- http://www.phillywatersheds.org
- www2.portoalegre.rs.gov.br/dep
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