Como voltar ao PASSADO?

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Os últimos 2 milhões de anos do nosso planeta foram marcados pela presença de animais gigantes, conhecidos popularmente como megafauna.  Em todos os continentes, animais como elefantes, mamutes, hipopótamos, preguiças-gigantes, tigres e leões desempenhavam um importante papel em seus ecossistemas, criando redes de interação complexas e moldando o ambiente em que viviam. Entretanto, com o fim da última era glacial, as populações de megafauna foram rapidamente declinando, sobretudo nos últimos 40.000 anos na Austrália e mais recentemente nas Américas, cerca de 13.000 anos atrás. Na maioria dos casos, a extinção das grandes espécies coincidiu com a chegada de seres humanos, que provavelmente caçavam os grandes herbívoros desses locais que já estavam com uma baixa população e, por terem taxas de reprodução lenta, essas espécies não conseguiram se recuperar. Rapidamente, os mega-carnívoros também rumaram para a extinção, devido à competição com os humanos e à diminuição no número de presas disponíveis. Apenas alguns ecossistemas da África e Ásia mantêm a mesma conformação do Pleistoceno, como algumas savanas nas quais elefantes, rinocerontes, antílopes e grandes felinos dividem o mesmo ambiente.

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Mais recentemente, uma nova onda de extinção vem acontecendo pelo mundo, sobretudo após a revolução industrial, devido à expansão agrícola, desmatamento e caça desenfreada. Os impactos dessa extinção em massa são mais visíveis para nós, uma vez que em poucas décadas vimos animais extremamente comuns desaparecerem completamente, como o tigre-da-Tasmânia (Thylacinus cynocephalus) e o pombo-passageiro (Ectopistes migratorius).  Tentativas de clonar esses dois animais, juntamente com mamutes e outros animais extintos, estão atualmente em andamento. Porém, por que clonar apenas um animal quando podemos devolver a vida a um ecossistema extinto?

Essa é a pergunta que levou à criação de inúmeros projetos pelo mundo conhecidos como “Rewilding”. Esse processo artificial consiste em tornar uma área antropomorfizada em um ambiente selvagem novamente, através da soltura de animais localmente extintos. Ao contrário do reflorestamento, que consiste no repovoamento da base das cadeias tróficas através do plantio de árvores em uma área degradada, o processo de rewilding visa devolver a uma região seu aspecto natural do topo da cadeia alimentar para a base ou do meio para as pontas, com a introdução de uma espécie-chave, ou seja, um animal que desempenha um papel especialmente importante para um ecossistema.

O processo de rewilding foi proposto com base na reintrodução de lobos (Canis lupus) no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Esses animais foram extintos na região em 1920 devido à caça, o que afetou drasticamente o ecossistema local. Apenas em 1995 pesquisadores, em parceria com o governo americano, capturaram lobos em diversas áreas do Canadá e soltaram no parque com o intuito de proteger a espécie, que na época estava ameaçada.

Após a soltura desses animais, a população de veados uapitis (Cervus  canadensis)  caiu drasticamente e esses animais começaram a apresentar comportamento migratório para evitar sua predação, o que reduziu o pisoteamento de plantas e permitiu o maior crescimento de árvores na região.

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Com o aumento do número de árvores no parque, uma nova população de castores pôde se estabelecer e assim, construir represas que diminuíam o fluxo de água nos rios, criando novas áreas alagadas e reduzindo a erosão, o que aumentou o número de peixes, aves aquáticas, anfíbios, e lontras. Uma menor população de uapitis permitiu o crescimento da população de bisões-americanos (Bison bison), que hoje tem o parque como seu maior refúgio.

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Além disso, os lobos no parque reduziram a população de coiotes, o que possibilitou a proliferação de coelhos e roedores, o que atraiu raposas, furões, cobras, texugos, gambás e aves de rapina para o parque. A população de ursos do parque também cresceu drasticamente, impedindo uma superpopulação de lobos. Posteriormente, o parque retornou à sua condição ancestral, antes dos impactos humanos diretos.

Caso a escolha seja correta, a adição de apenas uma espécie em um ambiente pode gerar um impacto muito positivo em um ecossistema. Estima-se que até 2030, um espaço  do tamanho da Polônia estará desocupado na Europa devido ao êxodo rural na região, área que poderá ser utilizada para a prática de rewilding. Testes na América do Norte e Ásia estão tendo sucesso e, cada vez mais, essa prática se torna uma chave para entender o passado e preservar o futuro.

O Pleistocene Park, por exemplo, é um projeto russo que se iniciou com a introdução de cavalos e bisões em uma área de 160 km². Hoje, o parque conta com mais de 20 espécies nativas e, atualmente, o ecossistema do parque é muito semelhante ao o que era antes do estabelecimento de humanos na região, há cerca de 10 mil anos.

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É importante ressaltar que a prática de rewilding nunca deve prejudicar as populações locais ou forçar a desapropriação de uma área. Porém, no mundo todo, diversos ambientes sem interesse agrícola são inutilizados e não conseguem se recuperar por conta própria, sobretudo devido ao impacto de espécies invasoras. Ao retirar os animais e plantas exóticos do local, criar mecanismos de proteção da área e realizar metodologias de reflorestamento e rewilding, cria-se um investimento na preservação de ecossistemas, o que terá um grande impacto positivo .

Embora, provavelmente, nunca mais teremos preguiças-gigantes e tigres-dentes-de-sabre no Brasil, a adição de espécies-chaves como antas, onças e cutias em áreas degradadas poderão reviver ecossistemas há muito tempo perdidos. Dessa forma, migraremos para um futuro mais verde e, sem dúvida, mais selvagem.

 

Baseado em livro “How to Clone a Mammoth” de Beth Shapiro e em projetos ” Rewilding Europe” e The Rewilding Institute”

Fotos por Dailymail, Rebecca Raymond, Randall K. e retiradas do Google

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